quinta-feira, 8 de abril de 2010

A cadeira do vô.



Filha, essa é a cadeira do seu bisavô Antonio, avô de seu pai. Você não o conheceu pessoalmente, mas tem traços dele. Tem uma covinha perto do olho quando sorri, igualzinha a que ele tinha. Impressionante a gente reconhecer os traços de tanta gente em uma só menina. Os seus traços, em especial, são todos da família do seu pai. Você é a cara do papai. Também tem muitos traços da vovó Marlene. Eu, contrariando os demais, te acho até mais parecida com ela do que com ele. E quando você vai na natação, e coloca aquela touca na cabeça, te acho a cara da avó Ana, vovó do papai. Coisas que a gente não sabe nem explicar direito. Um olhar, um jeito de sorrir e está lá o avô, o tio, o primo. E, confesso, procuro meus traços em você mas não os encontro. Somos bem diferentes fisicamente; vamos ver o jeito como vai ficar já que até agora, pequenininha, você também não tem o meu jeito. Até nisso saiu ao seu pai, simpática, desinibida, puxa conversa com todo mundo, totalmente diferente dessa sua mãe meio sem paciência para socializações em geral. Sorte a sua filha, herdou bons genes, e essa grande qualidade que seu pai tem.

Mas voltando à cadeira.

Essa cadeira, como eu disse, foi do seu bisavô. Lembro dele sentado nela, querendo manter aquele ar austero que as outras gerações julgavam importante no trato com os mais novos. E seu pai, sempre brincalhão, fazia com que ele perdesse a compostura e acabasse rindo das palhaçadas dos netos. Seu bisavô se foi. Ficou a cadeira, que seu pai pediu para trazer para a nossa casa. Claro que não precisamos de objetos para lembrarmos dos que não estão mais aqui. Mas a cadeira está lá, homenageando o querido avô do papai. A chamamos de 'cadeira do vô' até hoje.

E nesse dia da foto você descobriu a cadeira, que até então tinha passado despercebida. Pediu para sentar. E quando eu te balancei, filha, foi a glória. Como assim tínhamos um balanço tão incrível dentro da nossa própria casa? E aí te balancei mais, você rindo, feliz da vida com o novo brinquedo. Chamei seu pai, que se emocionou. E aí te ensinei a se balançar sozinha. Pra frente e prá trás. E você, rápida no aprendizado, adorou a brincadeira e repetia: pa fenti, pa tás...linda, linda, linda. E pensei como você ainda é pequena, e como tenho que te ensinar tudo, essas coisas pequenas, desde um simples balancinho até coisas grandiosas que tenho até medo de pensar. Essa responsabilidade de ser mãe às vezes é assustadora filha. Mas é igualmente recompensadora.

Nesse dia, em algum lugar lá do céu, seu bisavô deve ter sorrido.

8 comentários:

  1. Cadeira de balanço é tudo de bom! Só cuidado pra ela não se empolgar demais e virar a cadeira (acho que ainda tá cedo...).
    E quanto a esses "clones de pai", lembre-se de que 50% do material genético dela é seu. Pura ciência ;)

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  2. ui, arrepiei...
    incrível isso da continuidade, ADORO pensar que, por exemplo, se essa cadeira for daquelas duráveis (e ela realmente parece ser) é capaz que ela embale também os filhos da Mariana...e os filhos dos filhos dela?
    ui, arrepiei, arrepiei.

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  3. Que lindo isso, Pat. Arrepiei também.
    E nem se preocupe que seus traços vão aparecer nela, nem, que seja só no jeito, no gênio ou na forma de falar. Porque convivência, menina, é tudo!
    Beijo

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  4. Emocionante, Patrícia, estou segurando o choro...ehehehe
    me lembrou da cadeira do meu avô, um italianão sangue-puro, sabe? Figuraça, quando a casa enchia de netos (éramos em oito) no fim-se-semana, ele prendia o controle remoto da tv no braço da cadeira, pra não sumir!
    Adorei essa viagem no tempo!
    Beijo grande!

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  5. Pat, que delícia ler seus textos! Saudades de vocês. Um beijo, Li

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Nossa, que texto lindo, Patrícia. Lembrei do meu avô e me emocionei. No início deste ano, fui a Fortaleza, na casa onde meus avós paternos moravam, e deitei Maria Luiza na cama deles, no quarto que era deles... Tb tirei fotos para guardar e mostrar a ela quando crescer. Senti uma emoção parecida com essa que vc expressou no seu texto...Acho que meus avós tb sorriram, em algum lugar, com a bisneta brincando na cama deles.

    Beijo!

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  8. Texto lindo, lindo. A gente sente o amor que você tem pela tua Mariana trasbordando pelas palavras que você escreve.
    Sorte a dela, ter uma mãe tão amorosa, e tão talentosa com as palavras.

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